Desafios contemporâneos da educação física no contexto educativo actual

Necessidade da transformação do Currículo

N transformação atual do currículo da Educação Física, faz-se necessário um aperfeiçoamento dos programas com um enfoque flexível e aberto, mais em função do nível real de domínio das habilidades que apresentam os alunos. Neste sentido Larraz, A. (2009) Larraz, A. (2009). Que aprendizagens de Educação Física deveria ter o alunado ao finalizar sexto curso de primário?. Revista Tándem. Didática da Educação Física, 29, 45-63. considera que este enfoque tem as seguintes vantagens:

A EF na sociedade globalizada atual, necessita programas mais acessíveis e coerentes que respondam às necessidades reais dos alunos e que ajudem ao professor como diretor do processo a definir com claridade os objetivos das aprendizagens e como organizá-los em etapas lógicas encadeadas umas com outras, pelas que transitará o aluno atendendo ao desenvolvimento demonstrado na etapa precedente. Neste sentido Vaca, M. J. (2008) expõe que desta forma se estabeleceria uma seqüência organizada das atividades que permitirá a todos os alunos um nível de desenvolvimento real atendendo a suas necessidades e possibilidades reais ampliando suas possibilidades de movimento, suas capacidades físicas e um estado psicológico favorável apoiado no êxito das aprendizagens.

Outro elemento importante a ter em conta o destaca López, V.M. & Couve. (2016) López, V.M. & Col, A. (2016). Os Retos da Educação Física no Século XXI. Revista Retos. Versão impressa. 29 182 - 187.. Em sua análise expõe que no próprio desenvolvimento histórico da Educação Física, esta recebeu influências de diferentes modelos. Certamente da escola sueca de ginástica, o modelo alemão, o modelo inglês apoiado no desporto, o modelo integral físico educativo e outros que transcenderam à actualidade, mantêm aberto o debate sobre os objectivos e a Educação Física e sua função dentro do processo educativo. Alguns enfoques se movem para o desenvolvimento integral do aluno em estreita relação com a estimulação de suas potencialidades, estabelecendo critérios inclusivos que contribuem não só na ordem física, pois também influem na área psicológica (desenvolvimento psicomotriz). Outros enfoques desenvolveram interesses mais selectivos enfatizando na práctica desportiva, o qual exclui a aqueles alunos que não apresentam aptidões para a práctica de um ou vários desportos. Estes enfoques não só são selectivos, também afetam em desenvolvimento do espectro motriz geral do aluno ao procurar sozinho o desenvolvimento das habilidades e capacidades específicas necessárias para a práctica do desporto selecionado.

Outros enfoques se afastaram destes dois clássicos antes mencionados e se enfocam mais a práctica de actividade física em função de um estilo de vida saudável e a estética corporal. Hernández, J.L. e García, M. (1992) definem um enfoque curricular integrador que deve cumprir com cinco grandes eixos:

Este último eixo alcançou na actualidade um maior auge, tendo em conta as características dos processos educativos adaptados às novas condições traçadas pela covid 19. Muitos autores como Juanes, B. J & Rodríguez, C. (2021), defendem a utilização das tecnologias de comunicação para orientar aos alunos na realização de actividades e jogos como alternativa para estimular a práctica consciente de actividade física e manter os níveis de desenvolvimento de habilidades, capacidades e conhecimentos nos alunos. Sobre este tema abundaremos em um epígrafe posterior.

Conceito de Educação Física

Em segundo lugar, a EF tem como desafio importante o de obter que os profissionais entendam finalmente o conceito do EF e que entendam a necessidade de uma nova concepção, deixando atrás as disputas entre os que defendem a EF por cima de tudo desde concepções didático-pedagógicas e psicológicas e aqueles que vêem o corpo humano e seu desenvolvimento como a cúspide desta disciplina.

Segundo Oña (2002, chamado pelo Rodriguez, 2008), faz-se necessário voltar a pensar a Educação Física para dar-lhe um sentido interdisciplinar, localizar sua ação em um contexto que lhe permita a reflexão para a busca de um desenvolvimento humano real. Das concepções iniciais dos currículos até a implementação destes, deve-se pensar no desenvolvimento integral do ser humano. O próprio termo define claramente seu objectivo e assim que deve ser, é “Educação”, com tudo o que inclui e “Física”, que não se refere sozinho ao corpo, mas sim também inclui a mente: a educação através do movimento.

A Educação Física como processo pedagógico, tem que assumir suas tarefas e objectivos próprios. Corresponde a nós professores parar de nos sentir donos do processo e transpassar essa função a seus verdadeiros donos que são os alunos. O processo deve centrar-se em suas necessidades e possibilidades, adaptando nossa forma de pensar e nossas concepções à imagem que o aluno cria da actividade que realiza, os benefícios que traz e o amplo espectro de possibilidades de movimento que lhe permite realizar seu corpo. Os limites os deve estabelecer o próprio aluno e não o professor.

Educação Física e Desporto

Seguindo o caminho das abordagens anteriores, a Educação Física contemporânea deve ser abordada como um processo integrativo e inclusivo que garanta um desenvolvimento global do aluno e que ao mesmo tempo lhe permita um alto desenvolvimento de suas habilidades motoras. Para isto a Educação Física deve fazer uso dos meios dos que dispõe, o exercício como médio fundamental, o jogo, os exercícios de expressão corporal entre outros.Neste sentido constitui um desafio actual a compreensão da relação direta que existe entre a Educação Física e o Desporto, na qual este último deve ser um meio fundamental a utilizar no processo de ensino e não a finalidade do processo. A Educação Física de caráter desportivo tem um interese exclusivo que limita o desenvolvimento daqueles com menos aptidões e vai contra as leis e princípios que regem a Educação Física como processo de formação integral do ser humano.

Rozengart, R. (2006) retoma estes elementos que formaram parte dos debates no Foro Mundial de Educação celebrado na cidade argentina de Buenos Aires. Desde esse momento se perfilam elementos que dão luzes sobre o papel que deve cumprir o desporto dentro da Educação Física. Neste sentido expõe algumas características que deveria cumprir o desporto nas escolas.

Discurso global da Educação Física nos tempos da Covid 19

Outro elemento importante o constitui a integração de todas aquelas concepções que surgiram na atualidade e que formam parte do chamado discurso global da Educação Física. Torna-se necessária uma reflexão a nível mundial para entender e unificar critérios com respeito ao que se precisa transformar para dar resposta às necessidades atuais que impõe o desenvolvimento social, sustentadas em uma educação flexível, aberta e diversificada com critérios de sustentabilidade.

Mais ao contrário do que se esperava com o início da pandemia da covid 19, os espaços para o debate sobre a Educação Física se multiplicaram a nível mundial. Criaram-se novos espaços de debate dentro dos centros educativos e a tendência é a procurar outras realidades e confrontar, do interno, os critérios de outros profissionais, procurando consensos e novas concepções de como enfrentar as provocações que impõe a Educação Física, não só no âmbito escolar, também nos espaços relativos à formação profissional dos professores.

De acordo com os resultados obtidos em seus estudos por Concha-Soto et ao. (2021), a situação global com a covid 19 tem proposto à Educação Física um desafío que implica mudanças na seleção e seqüência de conteúdos, tendo em conta os critérios seguintes:

Outros estudos como os de Baena-Morales et al. (2021), assinalam a preponderância de conteúdos relacionados com a condição física e saúde, deixando em um segundo plano aqueles conteúdos do bloco de jogos e desportos, habilidades motrizes ou de índole artístico-expressiva. Por sua parte, Serra-Díaz et al. (2021) expõem conteúdos teórico-prácticos nos que sobressaíam aqueles relacionados com as acções em entorno físico estável.

Nesta linha, Fontes et al. (2020) coincidem nos resultados em tanto que aludem principalmente a conteúdos relacionados a condição física e saúde, diferindo nos conteúdos relacionados com os blocos de jogos, actividades desportivas, habilidades motrizes e actividades de carácter artístico-expressivas, posto que expressam havê-los trabalhado bastante durante o período de confinamento.

Como podemos apreciar, abre-se para a Educação Física um novo cenário no que a criatividade de alunos e professores está convocada. o desafío é cumprir os objetivos e tarefas fundamentais da Educação Física neste entorno pandémico tão complexo e cambiante.

A necessária qualidade da Educação Física

Uma necessidade actual e tema e investigação recorrente, é a batalha pela qualidade do processo educativo desenvolvido na EF. Garantir uma EF de alta qualidade deve ser um desafio de todos. Um aspecto importante é a qualidade da aula de EF, que compreende indicadores, tais como:

Desenvolver sistemas e mecanismos de controle da qualidade. Atualmente os processos de avaliação se enfocam sozinho nos resultados e não no processo. Não se recolhe e integra na revisão do currículo a informação sobre resultados para traçar futuras intervenções. Não se utilizam indicadores de referência como base para uma avaliação periódica e efetiva do desempenho profissional.

Nesta ordem de idéias Cabezas, M. & Col. (2017) expõe que na disciplina de Educação Física se reconhece a avaliação da qualidade como um aspecto importante, um processo onde não só se desembrulha a vida espiritual do homem mas também se busca o aperfeiçoamento de habilidades psicomotoras e a conservação da saúde.

A contemporaneidade exige à Educação Física o manejo das novas concepções de ensino, as quais implicam um aperfeiçoamento das formas de ministrá-la e estas por sua vez um aperfeiçoamento do processo de formação profissional dos novos docentes com novas concepções.

Por sua parte Torche (2015), enfatiza na necessidade de não restringir a qualidade da aula só à dimensão acadêmica e critica o fato da excessiva hierarquia outorgada a esta dimensão das distintas políticas educativas e de avaliação. A Educação Física actual, para garantir uma melhor qualidade no processo formativo, necessita um professor centrado como um orientador do processo, concebendo esta como um sistema, empregando estilos de ensino contemporâneos e métodos productivos que estimulem a criatividade do aluno na busca de soluções às problemáticas que lhe apresentam em cada aula. Tudo isto sem descuidar os aspectos motivacionais e psicológicos particulares dos sujeitos com os que interage.

O necessário enfoque axiológico do processo de ensino aprendizagem na Educação Física

Torna-se necessário entender que a EF também precisa configurasse um código ético (de valores). Em todo processo educativo a identificação dos valores que vão se imprimir no educando é uma tarefa essencial que compromete aos responsáveis pelo processo. Neste sentido a EF, através dos seus conteúdos próprios tem que tributar a formar no aluno, uma maneira de ser, uma forma de comportar-se, uma forma de relacionar-se com o conhecimento, com seus colegas, com o professor e com a comunidade, valores e atitudes, normas e responsabilidades entre outros aspectos importantes que determinam sua formação.

Se conseguirmos bons resultados nestas áreas axiológicas teremos desenvolvido uma EF de excelência e se não ter sido assim, devemos corrigir nossas posições pedagógicas.

Prieto, E. A., Hernández, J.J, & Genebra, E. (2018), expõem que a formação de valores, constitui uma parte importante do processo de socialização desenvolvido em qualquer sociedade nos distintos cenários educativos. A esta lhe confere parte da responsabilidade de desenvolver o tipo de personalidade que conduz ao sistema social imperante. Neste conjunto de influências, a escola e o docente, desempenham um papel reitor e integrador na direcção do processo.

Entre os autores que destacam neste tema estão Calero e González (2015), os quais em seus estudos se pode apreciar como a Educação Física potencializa modos de atuação e constrói valores tais como a cooperação e a solidariedade, a confiança, o respeito para si mesmo e a outros, o desenvolvimento social. Com isto prepara aos alunos para seu futuro desempenho laboral, ensina-os a trabalhar em equipa, a coexistir em harmonia, o respeito e a tolerância com outros.

A Educação Física actual, não deve educar para o desporto, deve pretender o desenvolvimento de estilos de vida saudáveis e de respeito a se mesmo e a outros.

Retomando os elementos expostos por Prieto, E. A., Hernández, J.J, & Genebra, E. (2018), coincidimos com estes autores em um grupo de requisitos ou indicadores indispensáveis que hoje devemos atender na Educação Física da própria aula. Estes são os seguintes:

Como se pode apreciar nestas reflexões dos diferentes autores, a formação de valores não escapa às necessárias transformações que exige a Educação Física nestes tempos, nos quais um mundo melhor só podem obtê-lo melhores pessoas.

Formação dos recursos humanos.

A formação dos profissionais da EF e o desporto deve-se analisar desde dois pontos de vista. Em primeiro lugar está a formação de novos profissionais (pregrau) e em segundo lugar a formação contínua (postgrau) daqueles que já são graduados, em função das transformações e demandas actuais do processo de ensino aprendizagem.

Cañabate, D., Tesouro, M. & Zagalaz, M. L. (2018), expõem que um dos aspectos que determinam a identidade e qualidade da Educação Física na escola, é o desenvolvimento das competências profissionais e a capacidade de autoeficacia alcançado pelo professorado.

Em coincidência com esta afirmação se expõe que a formação de novos profissionais deve-se orientar para uma maior integração do componente acadêmico com o componente laboral (teoria e prática), ambos tendo como base o componente cientifico e investigativo. Solo assim se obteria o desenvolvimento das habilidades profissionais pedagógicas necessárias para o futuro desempenho do formado, em função das problemáticas reais e necessidades existentes a nível social (problemas profissionais).

A formação contínua no postgrau, exige não só uma atualização em âmbito acadêmico, se não uma maior vinculação e aplicação da ciência ao desempenho profissional e uma contextualização às necessidades reais dos docentes. Muitos programas atuais de formação no postgrau, adoecem de contextualização e só se orientam a brindar mais conhecimento sem responder às necessidades reais dos professores para resolver os novos problemas profissionais que enfrentam.

Saúde

A EF deve estabelecer dentro de seus objetivos principais o de promover hábitos e condutas ativas ao longo de toda a vida do indivíduo, em harmonia com o entorno físico e social, para evitar problemas de saúde contemporâneos tais como obesidade, artrite, artrose, anorexia, bulímia e envelhecimento acelerado da população. Para obtê-lo, a EF não pode ser só curricular, deve extrapolar-se fora do contexto da aula e estimular aos educandos a converter o exercício físico sistemático em um estilo de vida para a promoção e manutençãon da saúde.

Como indica Vázquez Gómez, (2000), o emprego da actividade física como médio educativo formalizado conforma um espaço do sistema educativo denominado Educação Física, a qual constitui uma parte da educação geral que tem como objetivo a melhora e desenvolvimento das capacidades corporais através da actividade física.

Por sua parte Hernando, M. (2006) expõe que a atividade física realizada de uma forma regular é uma forma extremamente benéfica para a prevenção, desenvolvimento e reabilitação da saúde, sem esquecer a influência tão benéfica que exerce sobre a formação do caráter, a disciplina, tomar decisões e a aceitação das regras, favorecendo o desenvolvimento da pessoa em todos os ordens da vida cotidiana. Neste sentido, a aula de Educação Física contemporânea, deve ir encaminhada não só a educar pelo movimento, também a educar para a saúde.

Status marginal da Educação Física

A EF não é um elemento fundamental dos programas escolares, passando a ter um tratamento marginal. A atribuição de tempo no currículo deve ser suficiente para conseguir resultados. O tempo limitado no currículo (por exemplo no caso de Angola é só uma vez à semana) tem como resultado que a Educação Física não pode satisfazer as necessidades de actividade física dos alunos, encher seus déficits de actividade.

Investigadores como Gambau (2015) Gambau Pinassa, V. (2015). As problemáticas atuais da Educação Física e o Desporto Escolar na Espanha. Revista Espanhola de Educação Física e Desportos, 411., revelam como o status marginal da Educação Física, as deficiências na formação do professorado, a falta de incentivos aos docentes, a dificuldade para o desenvolvimento profissional contínuo e a ausência de recursos, são algumas problemáticas que fazem perder aos docentes desta área a motivação pela profissão. Esta perdida de motivação, repercute direitamente na experiência de aprendizagem que se oferece ao alunado através das aulas desta matéria.

Entre outros muitos aspactos, se fazem necesario atende-los das siguientes maneiras:

Estabelecer três níveis de comunicação para cumprir com sua missão transformadora:

Para isto a Educação Física deverá:

Só assim a Educacão Física poderá conseguir o estatus, a atençãoe o espaço que merece na formaçãoe preparação das novas gerações para a vida.