INTRODUÇÃO
No momento em que o jovem ingressa na universidade, observa-se que o estudante se insere em um ambiente diferente de sua realidade até então. Portanto, é natural que o jovem adote novos comportamentos que podem prejudicar a sua saúde. Como apontam os estudos de Faria, Gandolfi & Moura (2014) e Colares, Franca & Gonzales (2009), os jovens universitários passam a adotar comportamentos que podem ser nocivos para sua saúde devido a fragilidade emocional na qual se encontram, sendo suscetíveis: ao uso de drogas lícitas e ilícitas, ao envolvimento em brigas e acidentes de trânsito, e a ausência de prática de atividade física.
Devido a rotinas estressoras adotadas pelos universitários com diversos afazeres em seu dia, os estudantes podem desenvolver distúrbios psicológicos gerados pelo estresse (Belem, Rigoni, Santos, Vieira, & Vieira, 2016). Ressalta-se que aspectos voltados ao lazer podem auxiliar no controle do estresse (Nahas, 2013). Entretanto, questões associados ao lazer não são claras ao ponto de melhorar os comportamentos saudáveis das pessoas.
De fato, hábitos de lazer associados ao hedonismo podem ser negativos a saúde. Pois, podem estar associados à vida boemia, e consequentemente, ao consumo de substâncias nocivas à saúde. Por outro lado, os hábitos de lazer instrutivos e esportivos são benéficos à saúde mental e física das pessoas ao ponto de melhorar a qualidade de vida (Formiga, Ayroza, & Dias, 2005).
Destaca-se que investigações buscaram avaliar o nível de atividade física e os comportamentos voltados a saúde de estudantes universitários de Educação Física (Silva, Pereira, Almeida, Santos Silva, & Oliveira, 2012). Entretanto, investigações que buscaram relacionar os hábitos de lazer com os comportamentos voltados a saúde não foram realizadas. Ressalta-se que ao investigar os estudantes dos cursos de Educação Física é possível compreender os comportamentos dos universitários que possuem conhecimentos sobre a importância da adoção de um estilo de vida ativo e saudável. Pois, os conhecimentos, habilidades e atitudes repassadas no curso de graduação estão associados a esta temática (Bielemann, Karine, Azevedo, & Reichert, 2007).
Nesse sentido, contata-se que aspectos voltados ao estilo de vida, como atividade física, alimentação, relações sociais, entre outros pontos podem estar vinculados aos comportamentos ligados ao lazer e a saúde (Rodriguez-Añez, Reis, & Petroski, 2008). Contudo, poucas investigações buscaram evidenciar se existem grupos de estudantes universitários com distintos comportamentos frente ao estilo de vida, hábitos de lazer e nível de atividade física.
Assim, é necessário compreender os comportamentos voltados a saúde de estudantes de Educação Física para entender o processo de aquisição e aplicação dosconhecimentos voltados aos hábitos saudáveis de estudantes universitários. Portanto, o objetivo do estudo foi de identificar diferentes grupos de estudantes universitários considerando os hábitos de lazer, nível de atividade física e estilo de vida.
METODOLOGIA
A pesquisa descritiva teve abordagem quantitativa e de corte transversal. A amostra do estudo foi composta por 208 estudantes universitários dos cursos de Bacharelado e Licenciatura de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina. Destaca-se que houve representação de estudantes de todas as turmas dos cursos na composição da amostra.
Na coleta de dados os alunos foram convidados a responder quatro instrumentos, sendo que o primeiro foi um questionário sociodemográfico que investigou questões associadas a: idade, sexo, estado civil, escolaridade (ano do curso que estava matriculado), residência, meio de transporte que utilizava, entre outros. O segundo instrumento foi a Escala de Hábitos de Lazer elaborada por Formiga, Ayroza & Dias (2005) que investiga os seguintes domínios: Lazer Hedonista, Lazer Físico-Esportivo, Lazer Instrutivo. O terceiro instrumento foi o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ - Versão Longa), o qual avalia o comportamento sedentário e os quatro domínios da atividade física: transporte, doméstico, lazer e trabalho (Pardini, Matsudo, Araújo, Andrade, Braggion, Raso, 2001). Por fim, o Questionário Estilo de Vida Fantástico foi empregado para avaliar as dimensões: Família, Atividade física; Cigarro e drogas; Álcool; Sono, Cinto desegurança, estresse e sexo seguro; Tipo de comportamento; Introspecção; Trabalho, satisfação com a profissão (Rodriguez-Añez, Reis, & Petroski, 2008).
Na coleta de dados os questionários foram entregues aos estudantes, os quais receberam uma orientação verbal sobre as características do estudo. A coleta de dados foi realizada de acordo com cada período letivo (matutino ou noturno), nos minutos finais das aulas, mediante concordância dos professores. O preenchimento foi realizado de forma voluntária e a identidade dos indivíduos foi preservada. Destaca-se que os estudantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para autorizar a sua participação voluntária no estudo. Ressalta-se que o projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (CAAE:60569416.7.0000.5231).
Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva através de frequência absoluta (n) e relativa (%) e das medidas de tendência central (md) e de dispersão (q1- q3). Para a análise da estatística inferencial foi empregada a análise de clusters para identificar os diferentes grupos existem na amostra considerando onível de atividade física, estilo de vida e hábitos de lazer. Ressalta-se que todos os dados, no momentoda análise, foram transformados para uma escala que compreendia de 0 a 1. Tal ação foi adotada para normatizar as diferentes medidas utilizada em cada instrumento. Para determinar o número de cluster que deveria ser retido foi empregada a análise gráfica do dendograma de distribuição de clusters.
Após este procedimento foi empregada a análise de não-paramétrica da Prova U de Mann Whitney e do Qui-quadrado para identificar as diferenças entre os grupos com as variáveis compostas nosconstructos avaliados e as variáveis sociodemográficas. Destaca-se que todas as análises adotaram um nível de significância de 95% (p<0,05).
RESULTADOS
Ao avaliar o dendograma obtido pela análise de cluster, observou-se que a amostra de alunos foi distribuída em dois grupos, sendo o primeiro constituído por 71 acadêmicos, e o segundo por 137 acadêmicos.
Ao comparar os clusters considerando os constructos investigados (Tabela 1), observou-se que os estudantes de educação física alocados no cluster 1 apresentaram maiores índices frente:a avaliação global dos hábitos de lazer e da dimensão instrutiva, a avaliação global da atividade física e das dimensões: trabalho, transporte, atividades domésticas, atividades de lazer; e a dimensão atividade física do constructo do estilo de vida, quando comparados os alunos pertencentes ao cluster 2.
Tabela 1.
Comparação dos clusters considerando o constructos dos hábitos de lazer, estilo de vida e nível de atividade física
*Probabilidade estimada pelo teste de Mann Whitney
Ao avaliar a amostra dos estudantes (Tabela 2), observou-se que a maioria possuíam as seguintes características: sexo masculino trabalhava, solteiros, estavam no primeiro ano do curso, moravam com os pais, tinham em grande parte a percepção de saúde muito boa, não consumiam álcool, não usavam tabaco, não praticavam esporte, estavam matriculados no curso de bacharelado, frequentavam o período matutino do curso, possuíam índice de massacorporal considerado normal, eram da classe socioeconômica B e possuíam idade até 21 anos.
Tabela 2.
Comparação dos clusters considerando as variáveis sócio demográficas dos estudantes de Educação Física
*Probabilidade estimada pelo teste Qui-quadrado
Ao comparar os cluster considerando as variáveis sociodemográficas (Tabela 2), observou-se que o Cluster 1 possuía maior proporção de estudantes que trabalhavam e que pertenciam a classe socioeconômica B. Por outro lado, os alunos do Cluster 2 apresentavam menor proporção de trabalhadores, bem como, apresentavam maior índice de alunos que estava na classe socioeconômica A.
DISCUSSÃO
Ao considerar que o cluster 1 apresentou os melhores índices em relação cluster 2 quando considerado os hábitos de lazer e ao nível de atividade física, tal situação pode ser justificada pelas condições socioeconômicas, nas quais o grupo cluster 2 apresentava maior número de indivíduos que pertenciam a classe socioeconômica A (Tabela 2) (Martinez, & Lanza, 2011). Alguns estudos apontaram que indivíduos pertencentes a classes socioeconômicas mais altas tendem a ter uma vida com características mais relacionadas ao sedentarismo e menor índice de atividade físico comparado a outras classes sociais (Hallal, Victora, Wells, & Lima, 2003; Hallal, Matsudo, Matsudo, Araújo, Andrade, Douglas &vBertoldi, 2005). Além disso, pessoas que possuem condição socioeconômica favorável tendem a ter maiores índices relacionados a obesidade e doenças cardiovasculares (Martinez, Martinez, & Lanza, 2011; Matsudo, Matsudo, Araújo, Andrade, Andrade, Oliveira, & Braggion, 2008; Palma; 2000).
Pedišić, Rakovac, Bennie, Jurakić, &Bauman (2014) verificaram que a renda mensal estava relacionada ao nível de atividade física referente ao trabalho, visto que os alunos com orçamento mais baixo apresentaram maior nível de atividade física, o que parece estar relacionado ao trabalho em locais fisicamente exigentes. Por outro lado, alunos com um orçamento mensal maior podem ter mais oportunidades de participar de programas de exercícios e esportes em locais privados.
O nível de atividade física também parece estar relacionado ao desenvolvimento do país, conforme aponta Pengpid, Peltzer, Kassean, Tsala, Sychareun, & Müller-Riemenschneider (2015). Os autores avaliaram que estudantes universitários de 23 países e encontraram alta prevalência de inatividade física entre estudantes universitários de países em desenvolvimento e de média renda.
O fator que interferiu na diferenciação entre os clusters foi a relação do nível de atividade física, o que determina, desta forma, que os demais componentes do estilo de vida não interferem na diferenciação do perfil dos graduandos em educação física avaliados nesse estudo. Porém, os hábitosde lazer instrutivos possuem uma relação de interferência nessa questão, levando em consideração que os hábitos de lazer de caráter instrutivo são sedentários, o que dessa maneira pode contribuir para que o nível de atividade física seja modificado, como é apresentado no estudo de Esteves, Vieira, Brás, O’Hara, & Pinheiro (2017), o qual afirma que os universitários apresentaram comportamentos relacionados ao lazer de cunho mais sedentário.
O lazer instrutivo relaciona-se a experiências de aprimoramento e desenvolvimento dos sujeitos, tornando-os aptos para as escolhas de lazer e de transmitir conhecimentos (Formiga, Ayroza, & Dias, 2005). Kim e McKenzie (2014) verificaram que os universitários praticavam exercícios físicos no momento de lazer buscavam cuidar da saúde. Ainda, o lazer demonstrou oportunizar aos estudantes o envolvimento com atividades prazerosas, implicando em atividades autodeterminadas e intrinsecamente motivadas.
Além disso, existe ar elação inversa da atividade física sobre onível socioeconômico. Pois, a necessidade de trabalhar do cluster 1 pode ter colaborado para aumentar o nível de atividade física para ações de descolamento e de funções laborais do dia a dia. De fato, Lima, Ferrari, Ferrari, Araujo, & Matsudo, (2017) verificaram que o nível de atividade física parece estar relacionado com deslocamento até o trabalho, visto que entre os anos de 2000 e 2010 foi observado um aumento no número de indivíduos que utilizam o transporte ativo. Além disto, o nível socioeconômico apontou que os sujeitos que possuíam melhores condições utilizavam transporte privado para o deslocamento para o trabalho. Por outro lado, as pessoas que possuíam nível econômico menor apresentaram aumento no uso do transporte ativo, o que influenciou no nível de atividade física.
Ao investigar a transição para o ensino superior e as mudanças relacionadas a comportamentos relacionados a saúde, Deforche, Van Dyck, Deliens, & De Bourdeaudhuij (2015) verificaram a existência da diminuição na prática esportiva, aumento de peso e de comportamentos sedentários como, o uso de internet e tempo sentado. Assim, este momento apresenta-se como um período de risco para o ganho de peso e mudanças desfavoráveis na atividade física, alimentação e consumo de álcool. Deliens, Deforche, De Bourdeaudhuij, & Clarys (2015) apontaram com a entrada dos jovens na universidade, os alunos passam a ter que escolher entre atividades físicas e atividades sedentárias. Sendo que os fatores individuais (tomada de decisão), ambiente social (família e amigos) e o ambiente físico (disponibilidade, acessibilidade e preço) influenciam o envolvimento ou não na prática de atividade física por parte dos estudantes.
Como implicações práticas sugere-se que durante o curso sejam ofertados projetos e atividades de extensão que favorecem a adoção de um estilo de vida positivo, os quais considerem as variáveis sociodemográficas dos discentes, sobretudo a renda, tendo em vista o baixo nível de atividade física encontrado no Cluster 2. Por fim, deve-se ressaltar que este estudo apresentou como limitações a análise dos comportamentos relacionados a saúde apenas dos alunos de um curso, sendo necessário a ampliação desta investigação para que se possa definir novas estratégias de promoção da saúde na universidade.
CONCLUSÃO
Conclui-se que os aspectos vinculados ao nível socioeconômico e vínculo empregatício possuem forte relação para determinação dos comportamentos dos alunos quando considerados os hábitos de lazer, principalmente vinculados aos instrutivos, e as questões relacionadas a atividade física.
Por tanto, os aspectos instrutivos do lazer, bem como, a componente atividade física determinou a constituição de perfis de alunos, os quais possuem ligação com o nível socioeconômico e a característica de ação laboral entre os estudantes.